segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Fobia Social

Entrevista realizada por Drauzio Varela
• Drauzio – O que é fobia social?
Márcio Bernik – Ansiedade social todos nós temos. É normal sentir certo grau de preocupação com a imagem e ao falar com uma autoridade ou com uma pessoa que não conhecemos, mas a maioria consegue lidar com essa sensação de desconforto. Algumas pessoas, porém, a evitam de modo tão intenso que comprometem a qualidade de vida. Esse tipo de esquiva fóbica é o que chamamos de fobia social.
Drauzio – O homem é um animal social. Viver em sociedade foi fundamental para a sobrevivência da espécie. O que justifica esse transtorno de comportamento?
Márcio Bernik – Todos os animais sociais defendem a própria vida e seu nicho social com a mesma intensidade, não pela sobrevivência da espécie, mas para que seus genes sobrevivam e passem adiante. Para deixar descendentes viáveis, eles precisam estar vivos e inseridos socialmente pelo menos de forma razoável. Por isso, os animais sociais protegem sua imagem e sua posição na hierarquia social.
Pacientes com fobia social têm sensibilidade mais aguçada para se sentirem humilhados ou rejeitados em contextos interpessoais, ou seja, em contextos que incluam pessoas desconhecidas, pouco íntimas ou muito críticas, do sexo oposto, ou autoridades. Por trás disso, existe o medo excessivo de ficarem embaraçados ou humilhados na frente dos outros. Essa é a essência da fobia social.
Drauzio – Quando precisamos falar em público e vemos as pessoas olhando para nós, não há quem não sinta uma descarga de adrenalina.
Márcio Bernik – Esse terror de palco que todos os atores dizem sentir em alguns momentos chama-se ansiedade de desempenho e aparece nos fóbicos sociais de forma intensa. Em casos mais leves de fobia social, os pacientes são tomados por ansiedade excessiva quando desempenham tarefas na frente dos outros, como comer num restaurante, assinar um cheque ou outro documento qualquer, participar de uma dinâmica de grupo, de um seminário na faculdade , de uma entrevista de emprego e, principalmente, falar em público. À medida que esse transtorno evolui, passa para um tipo que chamamos de generalizado e, além das situações de desempenho, a pessoa evita as que favorecem o contato interpessoal (ir a festas, ser apresentada a estranhos, iniciar uma paquera) e nas quais é indispensável perceber como está sendo sua aceitação pelo outro a fim de nortear a pauta para seu comportamento.
A grande diferença entre a fobia social e as outras fobias é que o maior temor do paciente fóbico social não é de todo ilógico. Ele teme ser avaliado e de fato está sob avaliação num número enorme de situações. Na verdade, todos nós estamos sendo avaliados o tempo todo.